domingo, 20 de junho de 2010

Falando mais sobre David Lynch

Além de dirigir, ele é o responsável pela produção e pelo roteiro da maioria de seus filmes. Um diretor exótico, que consegue deixar sua marca em qualquer trabalho que produza, seja por meio dos aspectos característicos de seus longas, seja pela equipe de produção que se repete a cada projeto, o que faz sua obra ser facilmente reconhecida.
Sempre apaixonado por artes começou como pintor, tendo seu primeiro contato com a pintura aos 14 anos e aos 19 estudou Belas Artes. Com técnica de pintura abstrata seus quadros já tinham um aspecto mórbido. Uma vez enquanto esperava a tinta de uma recém-pintada tela secar, uma mariposa bateu nela e grudou na tinta, ficando lá até morrer. Lynch gostou tanto dessa dicotomia entre o vivo (a mariposa) e o morto (a pintura em si), que não só deixou-a lá, como passou a pôr em seus outros quadros objetos do mundo real, animais mortos, folhas secas ou um pedaço de bife.
Percebendo a maior limitação das artes plásticas (a imobilidade), Lynch decidiu incluir movimento em seus quadros, e assim fez seu primeiro curta de animação, Six Figures Getting Sick (1966), onde seis cabeças esculpidas por ele aparecem vomitando 6 vezes seguidas. Ele ainda viria a fazer mais dois curtas, The Alphabet (1968) e The Grandmother (1970). Com "The Alphabet", Lynch obteve o reconhecimento dos críticos e foi presenteado com uma bolsa de estudos do American Film Institute.
Em 1983 a 1992 ele desenhou para o jornal L.A. Reader a tira de quadrinhos O Cão Mais Bravo do Mundo, sobre um cachorro com tanto ódio de tudo que mal podia se mover, comer ou latir, só rosnava; produziu videoclipes de bandas que gostava, como Rammstein e Roy Orbison.
Só em 1972, ele se dedicou a seu primeiro longa-metragem, do qual fez praticamente tudo: argumento, realização, efeitos especiais, som, montagem e produção. "Eraserhead" tornou-se desde seu lançamento um filme cult aclamado pela crítica e transformou-se num ícone do cinema de vanguarda. Depois vieram “O Homem Elefante”, “Duna”, “Veludo Azul” e vários outros. Mas ele não se contentou em fazer apenas filmes, também produziu séries de TV como Twin Peaks que, dois anos depois, deu origem ao filme Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992). Trabalha com várias mídias como a internet, com uma mini- série feita exclusivamente para o site, a série de 8 capítulos chamada Rabbits, feita em 2002, onde 3 pessoas vestidas de coelhos habitam uma mesma casa. A Câmera nunca se move, não há cortes, nunca sabemos direito o que está acontecendo, e os diálogos estão espalhados aleatoriamente no roteiro.
Mas não para por ai, produziu um musical, que mais tarde foi editado e lançado como o filme Sinfonia Industrial No. 1; e em 2008, Lynch lançou-se como escritor e publicou seu primeiro livro, Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação (Gryphus Editora), que apresenta uma mistura de autobiografia, história do cinema, ensaio espiritual e manual de meditação.
Acredita que seus filmes proporcionam às pessoas reações fortes e emocionantes, pois faz com que cada um crie sua própria compreensão da obra e tire suas próprias conclusões. Essa "liberdade de opinião" que o diretor deseja é muito bem sucedida.

Lynch é um realista, e não um surrealista. Talvez ele seja o maior realista de todos, uma vez que ele pretende desmascarar toda a sociedade e mostrar sua verdadeira faceta, e é nada menos que curioso que ele o faça usando-se de uma estética surreal. Mas Lynch não condena essa sociedade em si, e sim o que ela esconde.

Suas técnicas de fotografia em chiaroscuro, o tom barroco, o intenso jogo de luz e sombra de Eraserhead e Homem Elefante, remetente do cinema noir e do expressionismo, para criar a visão de um mundo não-natural, é no uso das cores que ele se destaca. Cortinas vermelhas são uma presença quase que obrigatória em seus filme, para dividir o real do imaginário, como a eletricidade e dualidade.

Lynch sempre trabalhou muito com o som, e de forma tão peculiar que poderíamos fechar nossos olhos e reconhecer qualquer filme dele apenas por este aspecto. No começo do cinema falado, muitos críticos apontaram a nova tecnologia como a morte do cinema, que se havia acabado o mistério e o refinamento, apontando para uma arte banal e vazia. O problema é que, na época, as pessoas não sabiam direito como usar o som, mas Lynch foi dos poucos a realmente entender seu funcionamento. Todo clima do filme vem do som, feito sempre pelo próprio Lynch. Esse clima de terror e medo que predomina em seus filmes seria impossível caso o filme fosse mudo.
"A vida é muito, muito confusa. E os filmes deveriam ser realizados assim também." (David Lynch)



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