“Conte minha verdadeira história, a história de um cara que sempre acreditou no cinema nacional e que, mais cedo do que todos pensam, pode construir a indústria do cinema no Brasil. A história de um ator bom ou mau que sempre manteve cheios os cinemas. Que nunca dependeu do INC - Instituto Nacional do Cinema - para fazer um filme. Que nunca recebeu uma crítica construtiva da crítica cinematográfica especializada - crítica que se diz intelectual. Crítica que aplaude um cinema cheio de símbolos, enrolado, complicado, pretensioso, mas sem público. A história de um cara que pensa em fazer cinema apenas para divertir o público, por acreditar que cinema é diversão, e seus filmes nunca pretenderam mais do que isso. Enfim, a história de um cara que nunca deixou a peteca cair.”
Amacio Mazzaropi – Trecho extraído da revista Veja, 28/01/70
Amacio Mazzaropi nascido na cidade de São Paulo, em 9 de Abril de 1912, filho do imigrante italiano Bernardo Mazzaropi, e Clara Pereira, de origem portuguesa. Seus dotes artísticos afloram ainda na infância quando passava longas temporadas na cidade de Tremembé-SP onde o avô materno, o português João José Ferreira, tinha uma fazenda. João José era exímio violeiro e dançarino. Amacio acompanhava o avô que era animador de festas no bairro que morava.
Em 1919 Amacio volta para a capital paulista e ingressa no curso primário do Grupo Escolar do Largo de São José do Belém, onde se mostra com extrema facilidade para decorar poesias. Mazzaropi torna-se atração em apresentações escolares e não esconde sua paixão pelo teatro e circo.
Com a morte do avô a Família Mazzaropi volta para Taubaté. O jovem Amacio não escondia a vontade de se tornar ator de circo, para tentar acabar com o fetiche dos palcos, seus pais o mandam para morar com um tio em Curitiba. Em 1926, aos 14 anos, volta para São Paulo e foge com o Circo de La Paz, onde conheceu o famoso faquir Ferry, tornando seu auxiliar e no intervalo de suas apresentações conta piadas. Ferry consegue falsificar documentos e Mazzaropi passa a ter 19 anos, o que lhe possibilitou contar piadas picantes, fato que agradava e muito o público.
Em 1929, sem dinheiro abandona a vida de circo e volta para Taubaté onde trabalhou como tecelão da Companhia Taubaté Industrial. Mas a arte cada vez mais viva nas veias de Mazzaropi o levou novamente aos palcos em 1931, mas desta vez como diretor e ator no salão do Externato Sagrado Coração de Maria, do Convento de Santa Clara, em Taubaté. Um ano depois ele estréia na Troupe Carrara, com a comédia “A Herança do Padre João”. Em março de 32 estréia no Cine Tremembé uma das famosas trupes do interior do país. Mazzaropi passa a fazer parte da trupe e em novembro, ele se torna líder da nova companhia “Trupe Mazzaropi”. Amacio convence os pais a acompanhar a trupe e eles tornam atores e ajudam na administração. Em novembro de 44, morre Bernardo Mazzaropi, aos 56 anos.
O teatro leva Amacio ao rádio, em 1946 estréia na Rádio Tupi de São Paulo o programa Rancho Alegre, programa ao vivo que ia ao ar todos os domingos às 19h45, no auditório da rádio, no Sumaré. A produção era de Cassiano Gabus Mendes e logo alcança grande audiência. Mazzaropi ganha cada vez mais espaço no rádio, e atua ao lado de grandes nomes da época, como Hebe Camargo, Linda Batista, Henricão e Rosa Maria. Em 1947 assina contrato com a Companhia Dercy Gonçalves e atua ao lado da famosa atriz.
O teatro levou ao rádio e o rádio o levou, 1950, a primeira emissora de televisão brasileira, a TV Difusora de São Paulo, canal 3, onde se tornou o primeiro humorista da TV brasileira, sendo patrocinado pela Philco, o primeiro patrocinador da TV brasileira. Em janeiro de 51, Mazzaropi participa do programa inaugural da TV Tupi do Rio, anunciado como “o maior caipira do rádio brasileiro”, o sucesso foi tamanho que ele ganha um horário, toda quinta à noite. Mazzaropi trabalha na Rádio e TV Tupi de São Paulo e do Rio de Janeiro, além de shows em teatros.
Do teatro ao rádio, do rádio a TV, da TV ao cinema. Em 1951 os diretores Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne vêem Mazzaropi na TV e o chamam para um teste na Companhia Cinematografia de Vera Cruz, e aos 39 anos ele é escolhido para filmar “Sai da Frente. Sucesso” palavra que já fazia parte da vida de Amacio. Os estúdios de Vera Cruz passam por problemas financeiros. Depois de ter estrelado 8 filmes, aos 46 anos, Mazzaropi cria sua própria produtora, a Produções Amacio Mazzaropi – P.A.M Filmes. E com recursos próprios, após vender casa e carro para produzir “Chofer de Praça”, em 59 e no mesmo ano filma “Jeca Tatu”. Ainda em 1959 Mazzaropi aceita o convite do José Bonifácio de Oliveira, o famoso Boni, na época da TV Excelsior de São Paulo, para fazer um programa de variedades que ficaria no ar até 1962.
Em 1960, estréia como diretor no filme “As aventuras de Pedro Malasartes ”. Amacio Mazzaropi faleceu no dia 13 de junho de 1981, aos 69 anos. O Jeca, o diretor, o produtor, o ator de teatro e cinema, o homem que sempre acreditou em seus sonhos nos deixou uma herança de 32 filmes e uma forma de fazer humor do típico homem do interior do Brasil.
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