sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Ruy Guerra
Diretor, produtor, roteirista, diretor de fotografia, montador, compositor e ator.
Nasceu em 22 de agosto de 1931 na cidade de Lourenço Marques - Moçambique.
Ruy Alexandre Guerra Coelho Pereira aprendeu sozinho a produção de filmes em 8mm. Foi ativista político, participando de movimentos anti-racistas e pró-independência, antes de deixar seu país com a idade de 19 anos.
De 1952 a 1954 estudou cinema em Paris na IDHEC, começou a participar de filmes na França como assistente de cameraman e assistente de diretor. Apesar de ter feito filmes em vários países, Ruy Guerra está primeiramente ligado ao cinema brasileiro como um dos líderes do movimento do Cinema Novo nos anos 60 e começo dos anos 70.
Seu primeiro longa-metragem brasileiro, "Os Cafajestes" (1962), foi um dos poucos sucessos comercias do Cinema Novo. Nota-se neste filme alguns traços da Nouvelle Vague francesa, não muito bem recebida nos círculos mais influentes do jovem grupo cinema-novista. O cineasta, na época recém chegado ao Brasil, traz em "Os Cafajestes" a marca patente de sua condição de estrangeiro. Antes da realização desta obra, Guerra havia dirigido dois curtas-metragens inacabados, "Orós" (1960) e "Cavalo de Oxumaré" (1961), este último com roteiro escrito em colaboração com Miguel Torres. Sua estréia com "Os Cafajestes" foi bombástica, devido à forte repercussão do filme ao ser lançado em 1962, tendo o primeiro nu frontal (Norma Bengell) do cinema brasileiro moderno. Ao contrário de outros filmes do Cinema Novo do mesmo período, esta obra apresenta um estilo maduro e bastante seguro de direção. Entretanto, a condição de estrangeiro faz com que o diretor encontre dificuldades para entrar no grupo cinema-novista. Esta defasagem em termos de um passado brasileiro é certamente responsável pela singularidade de "Os Cafajestes" no Cinema novo da época.
O universo burguês, apesar de aparecer de forma decadente, não se opõem ao do popular, para daí tirar uma significação carregada de sentimentalismo. À crueza da exploração chantagista exercida pelos cafajestes do filme não é contraposto nenhum discurso de cunho moralista. Talvez tenha sido exatamente o amoralismo desta obra que chocou a sociedade da época, provocando seguidas interdições e diversas confusões antes de sua exibição final. Liberado pela censura e já com 10 dias de exibição, batendo recordes de bilheteria, recebe uma ordem de interdição do chefe de polícia da Guanabara. Então, o produtor Jece Valadão resolve fazer cortes por conta própria, para facilitar a liberação, mas é processado por Ruy Guerra para a preservação de sua obra. Uma liminar garante a volta do filme em cartaz, mas é cassada pelo presidente do Tribunal de Justiça, causando um ato público na sede da Associação Brasileira de Imprensa pela liberdade de expressão no cinema. Forma-se uma comissão de 21 membros, da qual fazem parte diversos participantes do Cinema Novo. Toda essa agitação foi extremamente benéfica para divulgar o filme. Voltando a ser exibido, é proibido para menores de 21 anos (uma inovação jurídica) e bate todos os recordes de público. "Os Cafajestes" abalava os sólidos alicerces da família brasileira e mostrava de forma crua um dos temas preferidos do primeiro Cinema Novo: a burguesia depravada.
As filmagens de "Os Fuzis" iniciaram-se em 1963 no interior da Bahia. Para este filme, Guerra utilizou métodos de "laboratório" para a direção de atores, apresentados na época como grande novidade. A intenção era aproveitar as ilações da realidade local, a caatinga. Os atores, através do trabalho de laboratório, absorveriam o ambiente da região, intensificando o realismo do filme. A preocupação estava na percepção da realidade singular do Nordeste, transformado-a em matéria do filme. No Festival de Berlim, "Os Fuzis" conquista o Urso de Prata. Porém, o lançamento tornou-se problemático por causa de pressões dos produtores que achavam o filme muito lento para a exibição comercial e exigiam cortes por parte do diretor. 5 meses após a premiação em Berlim, a obra continuava inédita. Os cortes acabaram sendo feitos à revelia de Ruy Guerra, que recusou a autoria do filme. As cópias exibidas até hoje são as manipuladas pelos produtores.
"Os Deuses e os Mortos" (1970) é uma tentativa de representar a história do Brasil a partir de um drama pessoal, utilizando-se, para isso, de procedimentos alegóricos. Nas alegorias do filme, a contraposição entre o arcaico e moderno não se faz presente, mas impera uma narrativa onde a representação da agonia e do desespero parece ser central. O fio da intriga é muito tênue e perde-se em meio a grandes quadros estáticos, que representam as situações dramáticas.
Filmografia
• 1954: Quand le soleil dort (Quando o sol dorme). Diretor e roteirista.
• 1957: S.O.S. Noronha. Ator.
• 1962: Os cafajestes. Diretor e roteirista.
• 1962: Os mendigos. Montador e ator.
• 1964: Os fuzis. Diretor e roteirista.
• 1968: Balada de página três. Roteirista.
• 1968: Benito Cereno. Ator.
• 1969: Ternos caçadores. Diretor e roteirista.
• 1970: Os deuses e os mortos. Diretor e roteirista.
• 1970: O senhor do tempo. Ator.
• 1972: Os sóis da ilha de Páscoa. Ator.
• 1972: Aguirre, der Zorn Gottes. Ator.
• 1975: As aventuras de um detetive português. Roteirista.
• 1976: A queda. Diretor, roteirista, compositor e ator.
• 1980: Mueda, memória e massacre. Diretor e diretor de fotografia.
• 1981: Histoires extraordinaires: la lettre volée. Diretor e roteirista.
• 1983: Eréndira. Diretor.
• 1986: Ópera do malandro. Diretor, roteirista e produtor.
• 1988: Fábula de la bella Palomera. Diretor, roteirista e produtor.
• 1989: Kuarup. Diretor, roteirista e produtor.
• 1992: Me alquilo para soñar (telessérie). Diretor e roteirista.
• 1997: Posta restante. Roteirista.
• 2000: Monsanto. (TV) Diretor.
• 2000: Estorvo. Diretor, roteirista e produtor.
• 2004: Portugal S.A.. Diretor.
• 2004: O veneno da madrugada. Diretor e roteirista.
• 2005: Casa de areia. Ator.
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