segunda-feira, 5 de abril de 2010

Segundo Filme Federico Fellini - Os Boas vidas - ( I Vitelloni ) 1953



Os Boas-vidas - ( I Vitelloni ) é um filme italiano de Federico Fellini de 1953.
O filme foi filmado nas cidades de Florença, Rimini e Viterbo, participou do Festival de Veneza de 1954 e venceu o Leão de Ouro.
Fabricante: Versátil
Os Boas-Vidas é considerado o primeiro grande filme dirigido por Fellini.


Numa pequena cidade da Itália, cinco jovens amigos
são típicos "vitelloni" (inúteis): vivem uma vida boêmia repleta de bebidas e mulheres. Sem perspectivas, cada um deles encontra um modo de escapar da monotonia da vida provinciana. Com belíssima música de Nino Rota, Os Boas-Vidas conta com ótimo elenco, com destaque para o inesquecível Alberto Sordi (Abismo de Um Sonho), Franco Interlenghi (Vítimas da Tormenta) e Riccardo Fellini, irmão do cineasta. Federico Fellini aos seus 33 anos, quando roteirizou e dirigiu Os Boas-Vidas (I Vitelloni). Um retrato cômico e introspectivo da Itália pós-Segunda Guerra, o filme conta a história dos cinco jovens e unidos amigos que desfrutam dos dias e noites à moda “bon-vivant”, cada qual fazendo suas trapalhadas irresponsáveis, conduzindo a vida adeptos a um estilo que, pra dizer no mínimo, manda completamente às favas o protocolo do comportamento predominante. De uma maneira bastante idiossincrática, todos estão se lixando se devem ou não ter um emprego, ter uma namorada ou esposa, ter filhos, ter boa cultura, ter bons hábitos. Nada interessa, senão o hedonismo e comportamento amoral. Essa turma é liderada pelo personagem mulherengo Fausto, que, aliás, tem um nome deveras sugestivo – tanto pela literatura homônima, como também pelo significado da palavra: basta conferir no dicionário do grande Antônio Houaiss e encontrará o nome como a definição daquele que é feliz, ditoso, venturoso, ou ainda aquele com grande pompa, luxo e ostentação. Enfim, a trama começa a se desenrolar justamente quando Fausto descobre que engravidou uma moça tida como de família, e, no alto de sua personalidade anárquica, resolve fazer o que lhe parece mais coerente: dar no pé! O problema é que engravidou a irmã de seu melhor amigo, Moraldo, também um “vitelloni”. E aí as circunstâncias acabam o obrigando a se casar e, na medida do possível, a conduzi-lo rumo à vida trivial. Cada personagem deste grupo de cinco amigos conta com sua personalidade característica. Moraldo, de longe o mais sensato e introspectivo, passa as madrugadas vagando pela ruas da cidade interiorana, sem a menor perspectiva de vida – e parece o único a ter consciência disso. Leopoldo é o intelectual desempregado, que passa as noites escrevendo comédias enquanto flerta pela janela com uma vizinha – o que faz lembrar a história contida no livro “Ao Começo do Dia”, do escritor norte-americano Truman Capote, que ganhou adaptação para o cinema em 1961 com o filme Bonequinha de Luxo. Alberto é um folgado viciado em jogo e corridas de cavalo que sustenta suas apostas à custa de sua irmã trabalhadora – mas que é amante de homem casado. E por fim Riccardo (interpretado pelo irmão de Fellini), é cantor lírico e arroz de festa. Lendo essa breve introdução ao longa, o leitor pode pensar que trata-se de mais um filme com personagens adolescentes inconformados com o tédio do cotidiano. Quase. O curioso e irônico aqui é que esta confraria de rapazes é composta por marmanjos na casa dos 30 e poucos anos que não querem (e nem conseguem) se encaixar nos papéis que costumeiramente são atribuídos a homens desta idade. Fausto, o único que teve que cair na vida à contragosto, mal consegue se estabelecer em um emprego sem arrumar confusão – o que dirá ser fiel a ingênua esposa. Não por acaso seu visual reflete sua inadequação, estando absurdamente parecido com Elvis Presley, incluindo o penteado, e o rei do rock nos anos 50, como bem deve saber, não era nada conformista. Longe de ser um “spoiler”, vale a pena citar o porre homérico de carnaval, em que Alberto, no auge da ressaca onde a consciência pesa e ganha palavras, diz para o colega Moraldo: “Quem é você? Você não é ninguém. Vocês não são ninguém! O que vocês têm na cabeça? Nada, nada. Sabe, Moraldo, nós temos que casar. Olhe o Fausto, com uma vida certinha, tudo em ordem”. Afundado pela culpa de ser um boa-vida, ainda completa o discurso já ganhando um tom escapista e de digressão mental de defesa: “Sabe o que poderíamos fazer? Ir para o Brasil!” Estes trechos de diálogo são imprescindíveis para representar a sensação de inércia e atolamento a qual estão naufragados os personagens. Como já é típico de Fellini, a obra está repleta de simbolismos. O hábito mais curioso e impactante do grupo é o de ir ao limites da cidade contemplar o mar distante, lugar aonde ninguém vai, e então ficar fitando o horizonte, perplexos, como quem avista uma vida distante, sonhada, de liberdade não-vivida. O mar, tão presente em livros como os de Joseph Conrad e outros filmes de personagens sufocados pelo cotidiano, aparece como um símbolo de redenção e libertação, como em O Selvagem da Motocicleta e Os Incompreendidos, para ficar em poucos exemplos. Há ainda, embora em menor escala se comparado diante de outras obras do diretor, concomitantemente o caráter onírico manifestado em planos bem inspirados, fazendo uso de molduras de quadros contornando os personagens (recurso revivido ainda muitas décadas depois, como na capa do single da música “Wonderwall”), trilhos de trem que apontam para a melancolia e solidão, e ambientes repletos de espelhos, que proporcionam à plástica do filme um caráter “felliniano” por excelência. Haveria ambiente mais adequado para Fellini fazer suas estripulias imagéticas de que uma casa de antiguidades na qual Fasto é mantido sob cárcere para trabalhar e se civilizar – aliás, há símbolo que carregue maior pompa de tradicionalismo? Os Boas-Vidas não desfruta, infelizmente, da mesma fama que A Doce Vida tampouco de 8½, embora ao meu ver seja um trabalho muito bem resolvido sob o ponto de vista de estrutura narrativa, aparentando muito mais concisão, coesão e consistência do que alguns de seus outros trabalhos – embora invariavelmente brilhantes. Contudo, engana-se quem pensa que este seja um trabalho mais acadêmico do eloquente diretor italiano. O filme estava muito a frente de seu tempo. Tanto pela estrutura narrativa, notavelmente ousada para época, com cinco protagonistas com suas histórias paralelas, mas principalmente por sua temática, que antecipou toda a amoralidade e iconoclastia que fizeram a cabeça de muitos na Nouvelle Vague, especialmente de Jean-Luc Godard em obras de sua autoria como Acossado e O Demônio das Onze Horas. Mais notável ainda é a influência sob o filme Tudo Começou no Sábado (Saturday Night and Sunday Morning), clássico do cinema “new wave” inglês, que em 1960 igualmente abordava a temática do jovem não muito disposto a trabalhar e que o queria mais era beber e cair na farra com mulheres casadas. Os Boas-Vidas ainda é, segundo George Lucas, a principal fonte de inspiração cinematográfica de seu primeiro filme de sucesso, o arrasa-quarteirão da década de 70 Loucuras de Verão (American Graffiti). Filmes assim são reflexos expressivos do pós-guerra, pois apresentam certo vazio que passa a fazer parte da sociedade, sem rumo, sem ideais e com jovens a beira de nervos com a falta de perspectivas. O tema central de Os Boas-Vidas seria revisto de forma ainda mais contundente pelo próprio Fellini na década de 70 em outra obra-prima sua, Amarcord. Fellini era um artista, e é merecidamente reconhecido como um dos maiores diretores do cinema. E, geralmente como todo grande artista, sua obra está intimamente ligada a sua experiência pessoal. Seus filmes posteriores, esses sim os chamados de “obras-primas”, lhe fizeram a fama. Mas antes deles estava aqui, assim como fez James Joyce antes de seu Ulysses e Finnegans Wake, um genuíno retrato do artista quando jovem.




Filmografias
Festivais e Prêmios:
Festival de Veneza - Vencedor do Leão de Prata - Indicado ao Leão de Ouro
Melhor Filme
Academia de Cinema Americana (Oscar) - Indicado a Melhor Roteiro Prêmio dos Jornalaistas Italianos (Silver Ribbon) - Melhor Diretor, Produtor e Ator Coadjuvante
I Vitelloni, preto e branco, ano de produção 1953
* Origem: Itália
Genêro: comédia

Direção: Federico Fellini

Argumento: Federico Fellini, Enio Flaiano, Tullio Pinelli

Roteiro: Federico Fellini, Enio Flaiano

Música: Nino Rota

Montagem: Rolando Benedetti

Atores: Franco Interlenghi, Alberto Sordi, Franco Fabrizi, Leopoldo Trieste, Eleonora Russo, Riccardo Fellini, Claude Farell, Paola Borboni e Carlo Romano.






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