segunda-feira, 15 de março de 2010

Os Infiltrados - Martin Scorsese


Em Os Infiltrados, Scorsese trabalha com uma história dupla: Collin Sullivan (Matt Damon) é um informante do chefão da máfia de Boston, Costello (Jack Nicholson), infiltrado na polícia. De outro lado, Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) vê-se em situação inversa. Forja-se um crime que justificaria a sua expulsão da polícia e logo em seguida ele é integrado à gangue. Na verdade, é um informante da polícia, infiltrado junto a Costello. Os Infiltrados é, portanto, uma história de lealdades e traições. De agentes duplos que têm de fingir serem o contrário do que são. Mas que, fingindo, descobrem que os dois extremos da sociedade curiosamente se tocam, em mais de um ponto.
A estratégia de Scorsese não é dizer que não existem fronteiras entre a lei e o crime, posição tão niilista quanto simplificadora. Mas é discutir onde estão os limites entre um domínio e outro e por que motivo eles parecem se interpenetrar mais de uma vez. Por outro lado, existe um substrato que parece borrar e confundir essas fronteiras móveis – a violência que aparece na base de formação da sociedade americana, talvez mais do que nas outras. Esse tema, que aparecia com tanta clareza em Gangues de Nova York (e talvez uma das fraquezas deste filme estaria em explicitá-lo tanto), é lido aqui nas ações cotidianas dos seus personagens. A uma certa altura, alguém diz: “Neste país parece que todos se odeiam” e com esta frase define-se o espírito da coisa.
Scorsese não precisa fazer sociologia, ou mesmo buscar explicações muito profundas para entender que, quando se elege a competição como motor único da vida em sociedade, a violência surge como decorrência natural. Aceitando-se um termo da equação será preciso aceitar outro. Isso sabemos. O grande cinema, como o de Scorsese, tem o dom de dramatizar essa constatação óbvia. Torná-la narrativamente convincente e emocionalmente impactante.
Dito isso, convém acrescentar que os personagens, para atingirem esse fim, são construídos de forma complexa. Billy e Collin têm origem comum e, no fundo, são muito parecidos, embora trabalhem em campos opostos. São como Caim e Abel, como Esaú e Jacó, os irmãos inimigos, o fraterno desacordo, a guerra entre semelhantes. E o “mal”, Costello, é um mal complexo, porque ambíguo e sedutor. Um Jack Nicholson que já disseram que trabalha no automático, mas com uma intensidade rara. É sempre um prazer vê-lo em cena.
O elenco do filme é do cacete, com destaque (obóviamente) para Jack Nicholson, que faz um vilão divertidíssimo. Matt Damon, Martin Sheen e Alec Baldwin acompanham o Coringa, o Bobo, o Palhaço, o Bobo, mas Leonardo DiCaprio... cara, ele até estava bem, mas é aquela coisa... DiCaprio é como o Justin Timberlake: ele pode até fazer algo que preste, mas sempre vai ser um merda.

Também deve-se lembrar que o filme de Scorsese é um remake de Conflitos Internos, filme de Hong-Kong hiper-estourado por lá. Ainda não vi o original, mas em Os Infiltrados, Scorsese faz uma análise muito bacana sobre lealdade, traição e o círculo vicioso da violência. Ou seja, se você já conferiu Cães de Aluguel, vai terminar o filme com aquele ar de "eu já vi isso em algum lugar".

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