domingo, 14 de março de 2010

Terra Estrangeira / Walter Salles Jr



Oh, sim! Eu estou tão cansado mas não pra dizer
que eu não acredito mais em você
Com as minhas calças vermelhas
meu casaco de general, cheio de anéis
Eu vou descendo por todas as ruas
e vou tomar aquele velho navio
Eu não preciso de muito dinheiro
graças a Deus! E não me importa, honey
Oh, minha honey baby!
("Vapor Barato", de Jardes Macalé).
Terra Estrageira
É um dos filmes mais emblemáticos do diretor, e seu primeiro filme relevante que foi rodado em 1995. Premiado como melhor filme do ano no Brasil, e selecionado para mais de 40 festivais no mundo todo.O filme é uma história de solidão vivida e retida entre os imigrantes. Paco (Fernando Alves pinto), Manuela (Laura Cardoso) como sua mãe. Paco quer ir conhecer a terra natal de sua mãe na Espanha, mais logo após a morte dela, e sem dinheiro após o confisco promovido pelo governo Fernando Collor. Paco aceita entregar um pacote misterioso a pedido do também misterioso Igor (Luís Melo), em Portugal em troca do custeio da viagem. Após perder o pacote, ele encontra-se com a Alex (Fernanda Torres) brasileira que trabalha como garçonete em Portugal e que vive com Miguel (Alexandre Borges), um músico-contrabandista viciado em heroína. Em fuga para a Espanha, Paco é perseguido por bandidos interessados no pacote, que trazia um violino com diamantes escondidos. Em Terra estrangeira Walter Salles e Daniela Thomas que divide a direção trabalha com um ponto de vista totalmente caracterizado pelo caos implantada na época. O governo Collor e sua equipe econômica haviam acabado de confiscar a vida de milhões de brasileiros, para melhor se "integrar" num sistema econômico mundializado. Mais o modo de capitalização financeiro e o estilo se modificaram em nosso país, personagens que profundamente afetados pelo modo de exclusão social se tornaram percussores desta trama. Um navio encalhado em uma praia passa a representar a falência do projeto colonial português. Em montagem paralela, os planos filmados no Brasil alternam-se aos filmados em Portugal. Há aqui um sentimento predeterminado ao fato de que, em algum momento, as trajetórias dos personagens no Brasil e em Portugal se cruzarão. O Brasil e Portugal como parte de uma mesma nação derrotada, de um mesmo desejo vago, a imagens dos pais então entrelaçadas em só aspecto entre suas culturas. Nesse sentido, é de se notar a diferença que marca no filme a paisagem de Portugal e a brasileira.De alguma forma é como se o Brasil mostrado não comportasse sua tradição, às contingências do seu presente. Ao contrário, Portugal está preso ao passado, invocado como nação que se lançou ao mar e que desde o fim da era das navegações não conseguiu mais fazer parte da Europa. O Brasil é associado à degradação urbana, cartazes, propagandas envelhecidas que poluem o ambiente em meio aos mendigos catadores de lixo. Portugal e associado a navios encalhados, e suas ruas tem aquele aspecto da Antigüidade e da História Européia. Em termos poéticos, tanto o enredo como as imagens trazem uma qualidade artística rara em filmes brasileiros, com efeitos de iluminação sofisticados, uma belíssima fotografia e uma trilha sonora honrada pela interpretação de Gal Costa e que simboliza a metáfora amorosa vivenciada pelo casal para quem nada resta, apenas o amor.Um instante filosófico, repleto de poesia, paira na cena do velho navio encalhado no mar, impossibilitado de seguir ou retroceder, tal como os dois personagens que permaneceram estáticos dentro do contexto da marginalidade, numa vida reticente, envelhecida como uma matéria bruta, ou como o velho navio enferrujado que não alcançou o seu destino. No entanto, o amor que surge entre ambos recompõe a possibilidade do sonho, é o condutor da libertação. No momento em que se amam, parecem perder a condição de estrangeiros, de estranhos, é o resgate de identidade, da própria vida digna. A música Vapor Barato, de Jardes Macalé, faz uma alusão entre a geração dos anos 70 que lutou contra a ditadura, restando-lhe como alternativos o exílio e a geração dos anos 90 que passou por um processo de espera pela democracia, vendo-se diante de um Brasil sem esperança ou perspectiva: a "obrigação" de partir para uma terra estrangeira.

Elenco
Fernando Alves pinto... Paco
Laura Cardoso...Manuela (Mãe)
Luís Mello...Igor
Fernanda Torres...Alex
Alexandre Borges... Miguel
Tchéky karyo... Kraft
João lagarto... Pedro
Beth coelho
Gerald Thomas

Título original: Terra Estrangeira
Gênero: Drama
Duração: 100 min.
Lançamento (Brasil): 1995
Distribuição: Riofilme
Direção: Walter Salles
Roteiro: Marcos Bernstein, Walter Salles e
Daniela Thomas
Produção: Videofilmes Producoes Artisticas e Animatógrafo
Música: José Miguel Wisnik
Fotografia: Walter Carvalho
Desenho de produção: Daniela Thomas
Figurino: Cristina Camargo
Edição: Felipe Lacerda e Walter Salles

Bibliografia
Textos complementares: Marina Soler Jorge
Luísa Cristina dos Santos Fontes
atherine Almeida & Arthur Prado Netto

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