Limite [dir: Mário Peixoto, BR, 1931] é um filme contemporâneo porque, ligado a um pensamento próprio do cinema, se abre, soberanamente, apartadamente, ao gesto da experiência. Àquela que se realiza em si própria, que conduz ao tremor do qual fala o jovem Gorki no Reino das Sombras. Àquela que joga com uma inquietude de longos planos fixos da espera e a supensão desta por cortes rápidos e pela violência dos quadros, dos insistentes refrãos. No filme, três náufragos em um barco à deriva. Não há o que salve, nem a vagueação ou o restar na embarcação. O barco é onde, sendo espaço nenhum. Nem retorno, ou fuga, ou interrupção. Porque, sim, toda repetição, toda paragem. Toda cesura para trazer a volta. O esgarçamento de um ponto zero do cinema nacional. Isso ainda é ficção. Rememoração saudada em algum agora da conhecibilidade ou suas parecências. Novamente Agamben (1998), em Image et mémoire, escreve: "ao invés de interrogar a obra enquanto tal, penso que é preciso perguntar que relação existe entre o que se podia fazer e o que foi feito". Limite tem seus próprios cem anos de poeira e sua invenção adormecida. Ainda o vestígio.
É a partir de circunstâncias significativas que Mário Peixoto (1908-1992) estabelece uma paisagem única na cinematografia brasileira quando lança, em 1931, um filme totalmente silencioso. The jazz singer, de Alan Crosland, havia sido exibido nos Estados Unidos em 1927 impondo o sonoro aos cinemas de todas as nacionalidades. Por aqui, a inspiração era a feitura de filmes de Humberto Mauro e Adhemar Gonzaga. Porém, na vontade de cinema de Peixoto podia-se perceber uma quase oposição estética e de propósitos em relação a eles. Peixoto não se conduz ao lado de um cinema modesto e deferente, pelo contrário. Limite reage a uma suposta tradição cinematográfica, a uma política recém criada de um cinema longínquo e de uma herança nacional. É a distância tomada na época mesma em que se certava sobre uma outra condição (não apenas da técnica) de construir um filme. O que poderia ser ingenuidade (e também o era, de fato) tinha mais razão numa diferença, não de margem ou de resistência mas sim em um anacronismo desprendido. Obra que não se dá por retraso, ou nostalgia do que ainda não, mas por um desacordo temporal - e de lugar - com um cinema que não existia.
É a partir de circunstâncias significativas que Mário Peixoto (1908-1992) estabelece uma paisagem única na cinematografia brasileira quando lança, em 1931, um filme totalmente silencioso. The jazz singer, de Alan Crosland, havia sido exibido nos Estados Unidos em 1927 impondo o sonoro aos cinemas de todas as nacionalidades. Por aqui, a inspiração era a feitura de filmes de Humberto Mauro e Adhemar Gonzaga. Porém, na vontade de cinema de Peixoto podia-se perceber uma quase oposição estética e de propósitos em relação a eles. Peixoto não se conduz ao lado de um cinema modesto e deferente, pelo contrário. Limite reage a uma suposta tradição cinematográfica, a uma política recém criada de um cinema longínquo e de uma herança nacional. É a distância tomada na época mesma em que se certava sobre uma outra condição (não apenas da técnica) de construir um filme. O que poderia ser ingenuidade (e também o era, de fato) tinha mais razão numa diferença, não de margem ou de resistência mas sim em um anacronismo desprendido. Obra que não se dá por retraso, ou nostalgia do que ainda não, mas por um desacordo temporal - e de lugar - com um cinema que não existia.
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