segunda-feira, 15 de março de 2010

Os Incompreendidos, de François Truffaut, 1959.


"Os Incompreendidos"
Original: Les 400 Coups, França, 1959
Diretor: François Truffaut
Música: Jean Constantin
Roteiro: Truffaut e Marcel Moussy
Fotografia: Henri Decae
Elenco: Jean Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy, Guy Decomble e Georges Flamant

Os Incompreendidos, 1959, de François Truffaut é uma obra-prima considerada um marco da estética cinematográfica francesa mais importante da segunda metade do século XX, uma vez que é considerado o filme iniciador de uma nova linguagem cinematográfica francesa: o Nouvelle Vague.
Retratar um personagem menor de 18 anos sempre foi um desafio dificílimo enfrentado pela industria cinematográfica. Antes do ano de 1959, raramente crianças e adolescentes faziam o papel de protagonistas.Fotografado em preto e branco acompanha o percurso de um adolescente, Antonie Doinel (interpretado por Jean-Pierre-Leáud), nas vielas de Paris no final da década de 50. O jovem teve uma criação muito conturbada num ambiente de pouco amor e carinho. Sempre se metendo em encrencas Antonie enfrenta diversos percalços durante o enredo, daí a justificativa para o título original “Les 400 Coups” uma expressão francesa que pode ser traduzida como “pintar o sete”.
O filme é uma narrativa pungente no que tange ao descrever de forma afetuosa o cotidiano de um adolescente. Truffaut lança um olhar compreensivo e faz com que o telespectador passe a entender e a se identificar com o protagonista.
O filme é tido como uma autobiografia de Truffaut, o menino cresceu no seio de uma família pobre que vivia em conflitos, não o compreendia e nem sequer lhe davam atenção.
O cineasta demonstrou um naturalismo incrível nas cenas, não existe herói ou anti-herói, o filme expõe a existência de um jovem, seu comportamento juvenil demonstrando um momento da vida humana difícil de se ultrapassar que é a adolescência. O que se sobressalta no filme é o aspecto psicológico das pessoas/personagens, a dramatização está nas ações.
O movimento de câmera e o plano-sequência são a base do discurso, pois toda a ação possui uma duração e o filme se desenrola de forma seqüencial, sem cortes, sem fragmentar as cenas. Como a utilização foi o plano seqüência, a profundidade das cenas também é gritante, e torna-se necessário a utilização do movimento de câmera pois essa deve acompanhar o movimento e as ações dos personagens. O que sobressalta notoriamente é a ampliação do campo que dá uma sensação de profundidade enxergada em todo o filme. São longos planos, sem cortes.
Outro aspecto interessante do filme é a cena em que Doinel é interrogado por um psicólogo de quem se ouve somente a voz e dá a impressão de ser uma entrevista de televisão onde só se vê o entrevistado e ouve-se a voz do repórter.
O filme é poético, melancólico, sofrido, às vezes cômico e suave, mas deixa ressaltar sempre a compreensão e o calor humano que desperta nos telespectadores, tamanha a sensibilidade.
Truffaut utilizou cenas externas em sua maioria, privilegiando a luz natural.
Antonie Doinel é a tradução dos sentimentos vivenciados por jovens de todo o mundo, problemas rotineiros que permeiam gerações, onde se identificam que as questões familiares interferem diretamente na formação da personalidade e na predisposição para as escolhas futuras dos filhos. O cineasta “salpica” um humor leve, tolo com imagens de profunda poesia como al lindíssima cena final da chegada ao mar.
Antonie vive em seus treze anos uma vontade de descoberta, a certeza de já poder caminhar com suas próprias pernas, e vai no decorrer do filme esbarrando em barreiras. Um professor autoritário que o perseguia implacavelmente; o desprezo da mãe e do padrasto, que vai incitando um sentimento de rejeição impulsionado pela situação financeira da família que vive num cubículo. O garoto é maltratado pela mãe e sente um peso dentro daquela família. Foge de casa e prefere viver a esmo nas vielas de Paris, com isso sobressai seu lado rebelde, comete pequenos furtos e é levado para um reformatório.
A cena final de sua fuga é belíssima, um triunfo, a profundidade que a filmagem proporcionou a seqüência aumenta a emoção e o ato de congelar a imagem naquele rosto sofrido, mas triunfante de Doinel é louvável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário