sexta-feira, 12 de março de 2010

Fabuloso destino de Amelie Poulain – Criando um novo mundo


Waldeci Fernandes

Os pioneiros

O cinema surge no final do século XIX como uma invensão capaz de gravar em uma película imagens em movimento, e reproduzí-las em uma tela, que inicialmente atingira um pequeno público. O acesso aos curtas que eram projetados era através de feiras de ciência, parques de diversão e Vaudevilles, onde os estudiosos da época pensavam que o cinema seguiria a fotografia na sua função de “registro”documental, como demonstraram os curtas produzidos pelos irmãos Lumiere em 1895 que foram projetados no Salon Indien no Grand Café no Boulevard em Paris.

Esses primeiros filmes produzidos, eram reproduções de cenas cotidianas vivenciadas pelos inventores do cinematógrafo, que logo tiveram o cuidado de difundir seu invento por várias partes do mundo, filmando e exibindo imagens de cidades, parques, monumentos históricos e cenas até então desconhecidas pela maioria das pessoas. Mesmo nos primeiros filmes produzidos nos primóridios do cinema pelos irmãos Lumière, já demonstravam idéias do potencial criativo dessa nova invensão, e em alguns filmes já continham novos recursos bem particulares do cinema como: a reversão da projeção, a pintura da película (criando efeitos de cor) e até mesmo através das primeiras trucagens de câmera, demonstrando assim um grande potencial dessa nova forma visual.

Um dos pioneiros mais importântes desse período foi George Meliès, que com seu trabalho desenvolveu várias técnicas de efeitos especiais, conseguindo levar para o cinema seus conhecimentos da arte do ilusionismo. George Meliès um mágico ilusionista com um talento inegável do mundo da ilusão, com uma grande experiência em teatro, música, ilustração, pintura, invensões e mecânica. Já em 1895 conhece esse novo invento criado pelos irmãos Lumiere, e vê nesse momento novas possibilidades de ampliar seu universo de criação.

Apesar de Meliès conhecer o cinema naquele momento, já utilizava projeções visuais em seus espetáculos de magia com uma lanterna mágica, também já conhecia o Teatro Óptico de Èmile Reynaud, teve contado com o Cinetoscópio do americano Thomas Edison, mas foi através do Cinematógrafo dos Irmãos Lumière que viu nesse aparelho uma nova forma de entretenimento para o seu público de magia, com um possibilidade narrativa inovadore, e a partir daí começou a experimentar essa nova tecnogia de produzir imagens em movimento.

Meliès começava a desenvolver suas técnicas de trucagens com o novo aparelho. Realizou diversos curta metragens que seguiam uma lógica do espetáculo de magia, com pessoas desaparecendo e aparecendo em outro lugar. O plano filmado pela câmera era a visão de um espectador sentado como se estivesse na primeira fileira de um teatro de ilusionismo, onde a magia acontecia diante dos seus olhos. O cenário normalmente era um palco onde o próprio Meliès dominava a cena apresentando seus truques de metamorfoses aparecimento e desaparecimento de coisas e pessoas, cabeças amputadas, cabeças que inflam e depois esplodem, o humor estava presente o tempo todo.

Em seu estúdio, Meliés através de múltiplas exposições, desenvolveu várias técnicas de efeitos especiais que foram base para o desenvolvimento dessa área no cinema atual, e conhecer sua técnica se faz necessário para os amantes dos efeitos especiais, e para os futuros realizadores. Um destaque importante em seu trabalho é que os efeitos especiais fazem parte do espetáculo como elementos narrativos, eles são necessários para se contar aquelas histórias, levando o espectador a um universo novo, criado pelo próprio Meliès. A busca pelo princípio da verossimelhança não era o objetivo, e sim entreter um novo público que se formara.



Jean-Pierre Jeunet

No cinema contemporãneo encontramos vários cineastas que procuram criar um cinema mais lúdico e poético, sem ter como base um cinema hiper-realista que em muitos casos, principalmente se tratando de efeitos especiais, é um dos princípios básicos em sua construção visual. Um dos destaques dessa safra de bons diretores, é o françês Jean-Pierre Jeunet, onde seus filmes buscam uma realidade fantástica, criando novos universos, com uma nova leitura de um cotidiano que sofre interferências ao acaso dos personagens. Sua obra trás também um pouco de humor quase ingênuo, resgatando pequenos prazeres do homem.

Para criar seus mundos imaginários, Jeunet utiliza em seus trabalhos vários efeitos especiais, seja para criar uma textura diferente, ou uma coloração fora do comum. Trucagens de câmera para criar efeitos de velocidade, alterando a percepção de tempo, ou mesmo técnicas de animação para dar vida a personagens pouco comuns como o abajur (em forma de porco) que ganha vida para interagir com a persongaem no filme: “O fabuloso destino de Amelie Poulain”.

Um dos aspectos mais interessantes nos efeitos especiais utilizados em seu trabalho, são os efeitos de composição gráfica, mostrando elementos visuais aos espectadores, que a olho nú, não poderiam ser vistos pelos personagens, somente o público tem acesso a essas informações visuais. Um bom exemplo está também no filme “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”, quando a Amelie pega uma cópia da chave da casa do verdureiro, é utilizado um efeito especial digital, como se fosse um raio X, que mostra ao espectador que no bolso da personagem se encontra uma cópia da chave. Esses efeitos criam novas possibilidades narrativas, criando assim um verdadeiro facínio nos espectadores, como comenta Machado.

O fascínio exercido pelo cinema é muito parecido com o fascínio do sonho: paralisado o corpo numa cituação de morte transitória, os signos projetados na tela ganham textura de coisa viva, ativando os mecanismos de envolvimento e identificação da platéia. (Machado 1997, p.46)

Com esses efeitos Jeunet consegue envolver o público nesse mundo criado pelos seus filmes, sem passar uma falsa ilusão de realidade, onde se mostra um mundo fantasioso, criado pelo cinema, de forma a manter a poesia e magia criada pela sétima arte.

Para destacar algumas técnicas de efeitos especiais utilizados por Jean-Pierre Jeunet, escolhi como objeto de análise o filme O fabuloso Destino de Amelie Poulain, destacando algumas cenas que exemplificam bem sua técnica. Nesse filme os efeitos especiais ficaram a cargo do Alain Carsoux e Duboi.

O fabuloso destino de Amelie Poulain

Título original: Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain

Ano de lançamento: 2001 – França

Site Oficial: www.amelie-themovie.com

Direção: Jean-Pierre Jeunet

Roteiro: Jean-Pierre Jeunet e Guillaume Laurant

Produção: Jean-Marc Deschamps

Música: Yann Tiersen

Fotografia: Bruno Delbonnel

Desenho de produção: Aline Bonetto

Direção de arte: Volker Schafer

Figurino: Madeline Fontaine e Emma Lebail

Edição: Hervé Schneid

Efeitos Especiais: Alain Carsoux

Destaque dos efeitos especiais:

Como havia destacado nos filmes de Jeunet, ele busca utilizar os efeitos especiais como elementos narrativos, e não para demonstrar novas tecnologias, deixando assim a história para sengundo plano. No filme Amelie Poulain não é diferente, onde utiliza muitos efeitos de animação digital ou trucagens de câmera para conseguir os efeitos de tempo.

Não somos nós que produzimos nossos sonhos; eles já nos chegam prontos, empacotados, reprodutíveis ao infinito. Máquina de moldar o imaginário, o cinema funciona executando, por conta do espectador, parte do seu trabalho psíquico. (Machado 1997, p.55)




Esta cena demonstra o momento exato da concepção da Amelie, e não dá para perceber visualmente se trata de uma animação digital ou mesmo uma imagem científica produzida em laboratório, mas o mais interessante dessa imagem é levar o espectador a presenciar uma cena fora do comum, uma visão inusitada da concepção ao nascimento da personagem. Na próxima sequência temos um efeito de time-lapse, que em uma diegese longa em que mostra a evolução da gravidez da mãe de Amelie. (vide imagens abaixo)



Encontramos também várias animações de recorte para realizar efeitos de reconstituições audiovisuais de fatos ocorridos com os personagens, como no exemplo abaixo, em que em uma animação reconstitui a técnica do personagem Nino de pegar fragmentos de fotografias em três por quadro e remontá-las em uma coleção em um álbum de fotos.




Temos outro efeito visual interessante na cena em que mostra o mendigo cego, que logo após ser ajudado pela Amelie, se torna uma espécie de anjo, esse efeito digital, em várias partes do filme personificam a imaginação da personagem, conseguindo assim criar de forma imagética o pensamento da protagonista.




Esses efeitos visuais criam verdadeiras metáforas cinematográficas, tornando alguns sentimentos vivenciados pelos personagens em imagens gráficas, através de animações digitais, aumentando ainda mais a compreensão das cenas, de forma muito poética. Dois exemplos muito interessantes dessa aplicação são nas cenas abaixo. No Primeiro exemplo, ao conhecer seu futuro amado, Amelie vê literalmente seu coração bater mais forte. E no segundo exemplo Amelie se derrete, também de forma literal, por não conseguir falar com seu amado. Nos dois casos temos boas aplicações da utilização de efeitos especiais de forma a potencializar a narrativa fílmica de forma criativa.








Conclusão


Na história do cinema temos ótimos exemplos de cineastas que utilizaram novas técnicas de efeitos especiais para criar novos mundos imaginários, ou poéticos, engrandecendo ainda mais a arte de fazer cinema. Meliés como pioneiro, soube utilizar muito bem suas técnicas em seus filmes, e Jean-Pierre Jeunet conseguiu seguir um estilo particular de utilizar efeitos como diferenciais em suas histórias, sem perder a poesia visual que inspira o seu trabalho.




Referências

BERGAN, Ronald. Guia ilustrado Zahar cinema; tradução Carolina Alfaro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2007.

MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas e Pós Cinemas. São Paul: Papirus, 2002.

MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 1990.

Documentário: A magia Meliès (Jackes Mény, 1997)

Filme: O Fabuloso Destino de Amelie Poulain

Wikipédia: http://pt.wikipedia.org

www.adorocinema.com/filmes/amelie-poulain/amelie-poulain.asp - 94k


Um comentário:

  1. Observar os elementos do filme, atraves de referencias historicas, transforma obras em engenhosos enventos e transmite a magnitude e o potencial de seus autores.Amelie Polain, concerteza se tornou um filme ainda mais interessante e diferenciado.

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