domingo, 14 de março de 2010

JOGO DE CENA - EDUARDO COUTINHO


O que é real, quando a câmera grava alguém?
O documentário foi filmado no palco de um teatro com apenas uma câmera e duas cadeiras. É realmente um jogo de cena.
A produção pôs um anúncio de jornal solicitando mulheres que se dispusessem a falar de si mesmas diante das câmeras. Foram 83 as respostas, das quais 23 foram selecionadas. Meses depois, atrizes foram convidadas para interpretar as histórias escolhidas. Um jogo de interpretação em que a fronteira entre realidade e atuação muitas vezes não é perceptível. Alguns relatos são intercalados entre entrevistada e atriz, em outros não fica claro a princípio quem está em cena. As atuações são tão verdadeiras que, com exceção das atrizes conhecidas, é difícil perceber se quem está falando é uma atriz ou uma pessoa real que está falando. O diretor brinca com isso na edição, às vezes mostrando a atriz antes da entrevistada. Mulheres comuns parecem assumir o lugar das atrizes. E as atrizes mostram suas dificuldades, angústias e táticas para interpretar o personagem. Andréa Beltrão, ao interpretar um dos relatos, revela algumas escolhas pessoais e se emociona por não crer no mesmo que sua personagem, deixando claro que em geral é difícil não se deixar envolver; Fernanda Torres que entra em cena gesticulando de forma parecida com sua personagem, no que é interrogada por Coutinho e responde: "Ué, pensei que era assim! Isso parece um teste!" Assim ela faz também uma pequena reflexão sobre como sentiu a personagem, terminando por contar uma incrível história que não se pode dizer se aconteceu com ela ou com outra pessoa, ou sequer se realmente aconteceu; e Marília Pêra que de início pareceu tímida, interpretando aquela mulher que dizia chorar sempre que assiste ao filme Procurando Nemo, é a mais impessoal das atrizes, se limitando a interpretar e até cantar como a personagem. Marília leva ao palco do filme uma curiosidade: o cristal japonês que é usado por atores para fazer brotarem lágrimas. Ela diz que foi preparada caso Coutinho quisesse muito vê-la chorar. Algumas coisas ditas pelas atrizes nos deixam em dúvida, parecem ser experiências pessoais, mas ao mesmo tempo nos dá a sensação de ser uma interpretação de algum relato.
Um filme onde Coutinho confirma a tese de que a realidade é tão cativante quanto à ficção, e que as duas se dissolvem e se completam. Emocionante.



Trailer do filme





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